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Andreia Nobre: “só se é um líder bem-sucedido quando se é um exemplo”

Depois de experiências profissionais em setores distintos, Andreia Nobre tornou-se na diretora geral da empresa imobiliária TKA | The Key Advisors, em 2022, cargo que detém até à atualidade. Através do exemplo, a líder pretende “ajudar a mudar estereótipos” e provar por, que as mulheres podem ser líderes eficazes e influentes”.

São várias as áreas por onde Andreia Nobre passou e o cargo de diretora geral da empresa imobiliária nacional TKA | The Key Advisors é a mais recente adição à sua impressionante carreira. Durante o seu percurso profissional, que conta com mais de duas décadas, a líder tem provado, verdadeiramente, que é um autêntico exemplo inspirador para outras e outros.

Antes de subir ao topo da TKA, Andreia teve um percurso “bastante diverso” e “um bocadinho fora da norma”, como descreve, porque não só deteve cargos em vários setores como também “viveu em 10 cidades de 3 continentes diferentes”. Inicialmente, em 1999, a diretora licenciou-se em Engenharia de Minas e Georrecursos, no Instituto Superior Técnico, e, nesse mesmo ano, começou a trabalhar na Somincor, firma que “explora as maiores minas subterrâneas da Europa”, refere. Já, em 2004, concluiu um MBA (isto é, Master in Business Administration) em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa e, posteriormente, passou por inúmeras posições e empresas, desde controller na AutoVision (Grupo Volkswagen) e assessora do Secretário de Estado da Justiça e da Secretária de Estado da Modernização Administrativa até Senior Manager na empresa multinacional EY (Ernst & Young). Nesta última firma, Andreia trabalhou primeiramente em Lisboa e depois no Dubai, especificamente na área de Fraud Investigation and Dispute Services. Isto foi “talvez o maior desafio” da sua carreira, revela, pois obrigava-a “a estar 15 dias fora e depois voltava a casa durante 15 dias”, e, com os seus filhos de 5 e 7 anos, teve o seu marido de assumir sozinho a educação deles e, assim, “passou a ser ele a pessoa que eles chamam quando se aleijam”.

De volta a Portugal, Andreia  mudaria completamente de área, aventurando-se na conservação do oceano, que a levou, em 2019, aos Açores para liderar um projeto da Fundação Oceano Azul. Três anos depois, voltou para Lisboa e aí tornou-se na diretora geral da TKA, cargo que detém atualmente, assim como o de mentora no Instituto Superior Técnico, na Universidade Católica Portuguesa e no Lisbon MBA. Entretanto, a líder está prestes a concluir uma Pós-Graduação em Gestão e Avaliação Imobiliária, no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Na ótica de Andreia, o percurso académico e o profissional são “ambos essenciais e indissociáveis, se queremos evoluir na carreira e sermos profissionais mais competentes”. Por um lado, a “educação formal” confere uma “base sólida de conhecimento teórico e prático”, algo que é “extremamente útil em todos os aspetos da nossa vida”, referindo que, no seu caso, “todas as formações que fez deixaram-na mais rica e, principalmente, mais segura e confiante nas decisões que toma”. Por outro, como existem “aspetos da liderança que são difíceis de ensinar num ambiente académico”, tais como “as competências interpessoais, a inteligência emocional, a visão estratégica ou a capacidade de tomada de decisão sob pressão”, a experiência profissional é o que realmente ajuda a obtê-los e a consolidá-los, admite.

Portanto, “o desenvolvimento pessoal contínuo e a experiência prática também desempenham um papel crucial na liderança”, reitera a diretora. Atualmente inserida no ramo imobiliário, Andreia é diretora geral da TKA desde 2022. Fundada em 2005, a TKA | The Key Advisors consiste numa empresa portuguesa que fornece “serviços de consultoria especializada em ativos imobiliários”, nas palavras da sua líder. Mas o que distingue esta firma de outras semelhantes? Para Andreia, a resposta é a “capacidade técnica, aliada ao serviço ao cliente e à vontade de continuar a aprender e a crescer”, o que a permite “trabalhar com os melhores clientes de forma motivada, ajudando ao crescimento deles” e ao do próprio grupo. Segundo Andreia, a sua entrada nesta firma começou com um simples e-mail da consultora de gestão de carreira Upper Side. Embora “adorasse os Açores e ainda mais os açorianos”, a líder sentia que “o seu compromisso com o projeto da Fundação [Oceano Azul] estava já cumprido” e que esta oportunidade profissional surgiu na “altura certa, com o extra de lhe permitir regressar a casa”. Assim, com “uma vontade de mudança e um nervoso miudinho”, candidatou-se ao cargo e acabou por ser selecionada.

Para a líder, este processo apresentou “duas grandes doses de loucura”: a primeira correspondente ao facto de se “atrever a aceitar liderar uma empresa numa área na qual não tinha qualquer experiência profissional” e a segunda o facto de o “principal acionista” da empresa “acreditar nas suas capacidades, apesar de saber que não tinha nenhuma experiência na área do imobiliário e das avaliações”. “A verdade é que, 18 meses depois, estamos os dois muito felizes por termos corrido o risco e o balanço é francamente positivo”, realça. Assim que se tornou líder da TKA, Andreia rapidamente viu a

“NECESSIDADE DE FAZER ALGUMAS MUDANÇAS, INTERNAS E EXTERNAS, QUE REFLETISSEM O NOSSO POSICIONAMENTO E NOS PERMITISSEM OTIMIZAR O NOSSO TRABALHO”.

De acordo com a diretora, houve “cinco pontos essenciais” que sofreram alterações: os processos, para garantir “total transparência na forma como [a firma] atua, quer para clientes quer para fornecedores”; as funções, de maneira a ajustar a equipa “às necessidades dos seus clientes, garantindo que entregam valor com o melhor talento do mercado”; os relatórios, para “facilitar a leitura de todo o seu conteúdo” e clarificar as decisões tomadas; a imagem e o website da empresa, que foram atualizados e modernizados; e as instalações, com o propósito de “continuar a crescer, melhorar as condições de trabalho da sua equipa e de quem as visita”.

Esta “primeira etapa” de mudanças foi “concluída com sucesso”, refere Andreia, e a empresa encontra-se já focada numa “segunda fase, que se concentra no desenvolvimento de novos serviços”. Um destes exemplos corresponde a uma “espécie de «tudo o que queria saber» sobre determinado imóvel”, serviço dirigido aos “particulares que pensam em comprar ou vender um imóvel” e que lhes fornece uma análise “sob diferentes pontos de vista”, tanto processual como físico, incluindo o valor de mercado desse imóvel específico.

Assim, a TKA pretende dar aos clientes “uma análise abrangente sobre o que está a ser comprado ou vendido, fornecendo sugestões para potenciais melhorias no ativo e ajudando a tomar decisões mais conscientes e informadas” que levam a “melhores decisões de investimento”, indica. Desta forma, Andreia crê que “qualquer cliente que venda ou compre um imóvel beneficiará de ter uma entidade independente, como a TKA, a dizer-lhe qual o valor real daquele imóvel em concreto” com a sua avaliação, sendo “o custo da mesma, na quase totalidade das situações, totalmente compensado pela decisão de negócio mais acertada”. No topo da sua carreira, a diretora geral da TKA revela que “nunca foi guiada por grandes metas” e, por isso, é “mais adepta do ditado” do filósofo e poeta Agostinho da Silva: “Não faças planos para a vida, que podes estragar os planos que a vida tem para ti”.

Contudo, por ser “perfeccionista e adorar desafios”, apresenta “uma vontade permanente de se superar e fazer melhor” e, assim, de “progredir”, sublinhando que “o que a foi movendo foram os desafios que teve a sorte de encontrar e abraçar pelo caminho”, os quais a fizeram crescer e aprender.

Apesar de estar num cargo ainda dominado por homens, a líder nunca viu as suas capacidades serem questionadas por ser mulher. Para Andreia, “a questão de ter ou não capacidade colocou-se mais nas oportunidades para as quais concorreu e para as quais terá sido rejeitada”, revelando que, nestas últimas situações, os recrutadores optaram por outras mulheres, “todas elas com melhor currículo” que o seu, para aquela posição em concreto,  e, portanto, “não se pode queixar”.

Para Andreia, qualquer mulher é capaz de simultaneamente “liderar múltiplos projetos” e “alcançar sucesso profissional”. Atingir este “feito significativo” não só “demonstra habilidades excecionais de liderança, organização e determinação” como também “desafia estereótipos” e “preconceitos arraigados que sugerem que as mulheres não podem ou não devem ou não conseguem ocupar posições de liderança ou ter carreiras bem-sucedidas ao mesmo tempo que têm famílias e uma vida social”, defende. Por sua vez, esta desconstrução ressalta a “importância de uma sociedade que valoriza e promove a igualdade de género em todos os níveis” e contribui para a “conscientização” e a “mudança de atitudes”.

“ESPERO QUE O MEU EXEMPLO, E DE TANTAS OUTRAS MULHERES, PROVE QUE É POSSÍVEL, MAS TAMBÉM QUE ILUSTRE COMO AS MULHERES PODEM SER LÍDERES EFICAZES E INFLUENTES EM QUALQUER CAMPO”

Com as missões de valorizar a mulher e de “ajudar a mudar estereótipos”, Andreia é uma das associadas da organização WIRE Portugal (Women in Real Estate), presidida por Filipa Arantes Pedroso. De acordo com a líder da TKA, o “propósito” desta associação é “aumentar a visibilidade das mulheres no setor do imobiliário e da construção, através da sua maior representatividade em eventos e iniciativas do setor”, para “defender os seus interesses” e gerar “uma comunidade de participantes ativas e de referência”. Para além da WIRE Portugal, Andreia “faz orgulhosamente parte” de outras organizações. Destas destaca a Inspiring Girls Portugal, cujo objetivo consiste em “inspirar raparigas a alcançarem as suas aspirações, colocando-as em contacto com mulheres profissionais que são referências de sucesso na sua área de atividade”, de maneira a “mostrar que existem inúmeras opções de carreira e profissões que podem seguir”. Como diretora geral da TKA, Andreia é defensora da ideia de que só é possível ser-se uma líder bem-sucedida “quando se é um exemplo” e isso “dá trabalho”. Para cumprir este objetivo, revela que é necessário ter “uma enorme capacidade de trabalho”, “uma generosa dose de empatia” – isto é, “ser capaz de calçar os sapatos do outro” – e, por fim, “uma pitada de humildade”, visto que é “importante ter sempre presente que nada se faz sozinho e que não estaremos sempre corretos”, defendendo que “saber ouvir os outros e, em caso disso, recuar e pedir desculpa é […] o sal da liderança”. Embora considere a perfeição algo “difícil” de definir, Andreia Nobre crê que “uma líder perfeita é aquela que transcende os objetivos” e “não deixa ninguém da sua equipa para trás”.

“ACREDITO QUE, POR DETRÁS DE UM GRANDE LÍDER, HÁ SEMPRE UMA GRANDE EQUIPA E QUE UM NÃO PODE EXISTIR SEM O OUTRO”

 

Entrevista Andreia Nobre, Managing Director, à revista Liderança no Feminino, publicada no dia 02 de Junho 2024.