2023 foi um ano marcado pela inflação, pelo abrandamento do crescimento e pelo ritmo mais rápido de subidas de taxas dos últimos dez anos. Para 2024, esses temas mantêm-se, juntando-se a possibilidade de uma recessão quer nos EUA, quer na Europa. Assim, as gestoras internacionais olham para 2024 com alguma incerteza, com a trágica situação no Médio Oriente a ser uma dessas principais fontes de incerteza.
Neste contexto, a FundsPeople perguntou às grandes gestoras internacionais que operam no mercado ibérico quais são as suas perspetivas para 2024. Estas são as suas respostas, publicadas por ordem alfabética.
“Do ponto de vista económico, o ano passado caraterizou-se pelo crescimento resiliente dos EUA, mas por uma debilidade na Europa e China“, começa por afirmar Álvaro Antón Luna, responsável da abrdn para a Península Ibérica. Os bancos centrais estão nas fases finais do acentuado ciclo de subidas das taxas de juro e a inflação diminuiu, embora ainda não tenha voltado ao objetivo.
Olhando para o futuro, na abrdn não estão convencidos de que a economia dos EUA possa continuar tão forte como tem sido, à medida que o apoio das reservas de poupança do consumidor se esgotam, e esperam uma ligeira recessão em 2024. “A Europa e o Reino Unido já estão praticamente na mesma situação, mas deverão recuperar no próximo ano”, acrescenta.
A China deverá estabilizar-se no contexto da flexibilização das políticas, que agora se tornou favorável. No que respeita à inflação, os últimos passos do declínio da inflação mundial podem revelar-se os mais difíceis, uma vez que as vitórias fáceis dos efeitos base da energia e da normalização da cadeia de abastecimento já passaram.
“O nosso cenário base é o de um abrandamento gradual e controlável da economia mundial, acompanhado de uma descida igualmente gradual da inflação – embora esperemos que não chegue aos níveis pré-pandémicos”, afirma Miguel Luzarraga, responsável de negócio da AllianceBernstein para a Península Ibérica. Na maioria dos aspetos, o seu atual cenário base é o cenário otimista que apresentaram há um ano.
Desta forma, seria negligente não reconhecer os riscos em torno das suas expetativas. “Com as elevadas taxas diretoras e o abrandamento da economia, é provável que a vulnerabilidade da economia global a choques tenha aumentado”, acrescenta o profissional. Embora os choques passados tenham sido confortavelmente absorvidos, os futuros choques podem não ser tão fáceis de gerir. Um calendário político global agitado, tensões geopolíticas persistentes e uma variedade de incógnitas podem tornar-se problemáticas, provocando uma inclinação negativa no equilíbrio de probabilidades do seu cenário base.
Os investidores ouvem frequentemente que as performances passadas não são garantias de resultados futuros, e o mesmo se aplica à economia. “Os investidores devem estar otimistas quanto à possibilidade de os próximos trimestres serem razoavelmente bons, mas também atentos aos eventos que podem mudar o panorama”, conclui.
Segundo Stefan Hofrichter, economista-chefe da Allianz GI, à medida que as taxas de juro começam a estabilizar, começa a surgir um novo ambiente de investimento com oportunidades a que – muito possivelmente – não assistíamos há anos. A diversificação das carteiras, e a tomada de decisões mais audazes e baseadas na convicção, pode ser essencial num momento de divergência do desempenho entre empresas, classes de ativos e economias.
“A incerteza continua elevada, ainda mais com o potencial de um choque nos preços do petróleo e as implicações das eleições de novembro nos EUA. A boa notícia é que os investidores poderão ser recompensados por voltarem a assumir riscos“, afirma.
Em termos de perspetivas para 2024, para a Allianz GI parece que: (i) contrariando o consenso, poderá haver uma recessão nos EUA e pensam que os mercados podem estar a subestimar o período de tempo em que os principais bancos centrais terão de manter as taxas mais elevadas, (ii) será fundamental adotar uma abordagem ativa na seleção e gestão dos investimentos, (iii) os mercados podem apresentar volatilidade devido à incerteza macroeconómica e geopolítica, (iv) estão a ser criadas as condições para que as obrigações se tornem atrativas e veem pontos de entrada nas ações, com enfoque em nomes e temas de qualidade, e (v) a diversificação vai ser essencial.
A Amundi prevê um enfraquecimento gradual do crescimento em 2024, principalmente devido a um abrandamento nos mercados desenvolvidos. “Desde que a crise geopolítica no Médio Oriente se mantenha contida”, afirma Victor de la Morena, diretor de Investimentos da Amundi Iberia. A gestora estima um crescimento do PIB mundial de 2,5% em 2024 (0,7% nos mercados desenvolvidos contra 3,6% nos mercados emergentes).
Os EUA enfrentarão uma ligeira recessão no primeiro semestre de 2024, enquanto o crescimento da zona euro permanecerá ligeiramente positiva. Os mercados emergentes continuarão a ser mais resilientes, mas também mais fragmentados, com a Ásia a destacar-se como um claro beneficiário dos fluxos de investimento.
Com uma procura mais débil, a inflação deverá aproximar-se dos objetivos dos bancos centrais até ao final de 2024. Falando de bancos centrais, a previsão da Amundi é que estes mantenham uma pausa durante o primeiro semestre do ano, até que a inflação pareça estar mais controlada. Depois disso, esperam que a Fed e o BCE reduzam as taxas em cerca de 150 e 125 pontos base, respetivamente, durante o ano.
Num contexto de taxas de juro em máximos, a Amundi considera que as obrigações são um ativo fundamental. “Preferimos a dívida pública e os créditos corporativos de qualidade. Iremos aumentar gradualmente a duração e considerar seletivamente a dívida dos mercados emergentes”, diz Victor de la Morena.
Nas ações, a disparidade das avaliações e o esgotamento do excesso de liquidez podem provocar uma maior volatilidade, pelo que estão defensivos e centrados na resiliência, na sustentabilidade dos dividendos e na qualidade; e em temas como a transição energética ou a inteligência artificial.
Quanto aos mercados emergentes, veem-nos como um importante motor de crescimento, preferindo as obrigações em divisa forte para considerar a divisa local assim que a Fed mudar de rumo, procurando histórias a mais longo prazo, como o nearshoring ou os vencedores da transição energética e dos avanços tecnológicos.
O contexto de menor crescimento e inflação pode favorecer o regresso a uma correlação negativa entre obrigações e ações, realçando a importância da diversificação, na opinião de Victor de la Morena. Neste cenário, os ativos reais e alternativos podem contribuir ainda mais para a diversificação tradicional. “Além disso, o ouro pode oferecer proteção contra o risco geopolítico e algumas matérias-primas podem servir de cobertura contra a inflação”, conclui.
Enquanto nos EUA uma nova forma de impulso fiscal continua a compensar grande parte do endurecimento monetário, a zona euro exibe uma menor proteção contra os efeitos habituais de taxas de juro mais elevadas, que estão a ser transmitidas plenamente ao setor bancário.
“Para 2024, esperamos um afastamento transatlântico ainda mais amplo. A balança de riscos também está claramente mais inclinada para o lado negativo na Europa do que nos EUA”, afirma Gilles Moëc, economista-chefe da AXA IM. De facto, a trágica situação no Médio Oriente é uma relevante fonte de incerteza e, em caso de escalada, será muito plausível que os preços do petróleo ultrapassem significativamente os 100 dólares por barril.
Os EUA e a zona euro terão que superar dois testes políticos diferentes. Os EUA têm de demonstrar que conseguem manter uma política fiscal acomodatícia sem provocar demasiada pressão sobre os rendimentos. “Por outro lado, a zona euro deve provar que pode levar a cabo um endurecimento monetário e fiscal conjunto sem prejudicar demasiado o crescimento nem a estabilidade política e sem aumentar a fragmentação financeira”, conclui.
“Estamos perante um novo regime de maior volatilidade, tanto macro como de mercado, que acentua a necessidade de aplicar uma abordagem ativa na gestão das carteiras”, afirma Javier García Díaz, responsável pela Península Ibérica na BlackRock. No próximo ano, será fundamental ser dinâmico e, acrescenta o profissional, ter “as competências de gestão necessárias para superar as fórmulas que funcionaram durante a Grande Moderação”.
Segundo o profissional, os investidores terão de enfrentar um “cenário muito desafiante”, com uma elevada tensão geopolítica e a expetativa de que os principais bancos centrais iniciem cortes nas taxas de juro, “um movimento em que esperamos que a Fed assuma a liderança a partir do segundo semestre”, afirma Javier García Díaz.
Estes movimentos serão condicionados pela evolução do ciclo e pela inflação, que se estabilizará a longo prazo em cerca de 2%, tendo em conta a persistência das forças que a provocaram, como as tensões no mercado de trabalho devido ao envelhecimento da população.
“Fazer prognósticos num mundo movido por fatores geopolíticos é praticamente impossível, uma vez que estes são imprevisíveis”, afirma Lale Akoner, economista sénior na BNY Mellon IM. Os principais temas dos próximos meses irão girar em torna da inflação, do crescimento, dos dados do mercado de trabalho das economias desenvolvidas e da forma como isso ajudará na alocação de ativos.
Segundo a profissional, na Europa o ponto de partida é pior do que o dos Estados Unidos, a região é mais sensível a taxas de juro elevadas e a inflação continua mais alta. Está também mais exposta à volatilidade dos preços da energia e, com a atual situação geopolítica, é preciso estar atento a qualquer escalada do conflito no Médio Oriente e ao seu possível efeito nos preços do petróleo.
“No geral, é um bom contexto para as estratégias de alfa e os gestores de ativos devem começar a mostrar novamente o seu potencial”, acrescenta. Na BNY Mellon IM acreditam também que as estratégias que ajudam a proteger o capital, a diversificar e a descorrelacionar as carteiras serão mais úteis num contexto com maior volatilidade estrutural.
Como bem recorda Rob Lind, economista-chefe da Capital Group, durante os últimos meses, a inflação tem sido uma persistente fonte de preocupação para os investidores, sobretudo devido ao seu impacto nas taxas de juro. A curto prazo, considera provável que a inflação continue a diminuir e que as taxas tenham atingido o pico.
“Isto refletirá principalmente o impacto da descida dos preços da energia e o abrandamento do crescimento económico”, afirma. Assim, prevê uma aterragem suave nos EUA em 2024, após um crescimento robusto em 2023. Por sua vez, a economia europeia deverá registar uma modesta recuperação em 2024, após ter estagnado em 2023.
A médio prazo, no entanto, prevê que a inflação seja mais elevada e mais volátil por razões como uma maior pressão salarial contínua e uma política fiscal mais flexível, especialmente nos EUA, que está a gerar défices orçamentais de cerca 6-7%.
Além disso, acredita que é provável que surjam novas tensões geopolíticas e perturbações no comércio e nas cadeias mundiais de abastecimento, o que também poderá aumentar as pressões inflacionistas. “Acredito que estes fatores dificultarão muito mais a concretização dos atuais objetivos de inflação dos bancos centrais”, afirma o profissional.
“No primeiro semestre de 2024, a economia mundial deverá resistir ao impacto das taxas reais graças ao reabastecimento do sector transformador, à rigidez dos mercados de trabalho, à queda do prémio de risco chinês e ao excesso de liquidez”, explica Kevin Thozet, consultor de carteiras e membro do Comité de Investimentos da Carmignac.
No entanto, estes amortecedores enfraquecerão no segundo semestre do ano, à medida que os efeitos da contração monetária atingirem o seu pico e os bancos centrais iniciarem cortes tímidos nas taxas. No caso das obrigações do Tesouro, o braço de ferro entre as elevadas taxas diretoras e a restauração do mecanismo de descoberta de preços significa que a seleção de vencimentos e regiões adequados será tão importante como a orientação do mercado.
O ambiente de aterragem suave do primeiro semestre do ano implica que os mercados de crédito manterão a sua posição de liderança em termos de retornos ajustados ao risco. “Na segunda metade do ano, deverão surgir ventos contrários macroeconómicos, tornando a seleção de obrigações mais crucial”, acrescenta. Depois de uma corrida desenfreada dos 7 Magníficos, os motores do retorno das ações irão ampliar-se. “Estes retornos concentrados requerem alguma cautela; faz sentido aplicar uma abordagem barbell; para diversificar a partir de nomes favoritos”, conclui Kevin Thozet.
Os dados económicos registados em 2023 foram mais positivos do que se poderia esperar no início do ano. A inflação baixou dos seus elevados registos, os números do emprego mantiveram-se resilientes e não atingimos o cenário de recessão que alguns previram.
“Na mesma linha, acreditamos que também não enfrentaremos o problema da recessão em 2024 e que, se o fizermos, será pouco profunda. O que esperamos para o próximo ano é que a inflação continue a descer, como nos últimos meses, e que as taxas de juro se mantenham elevadas por mais tempo. Quanto ao desemprego, acreditamos que veremos quedas”, afirma Rubén García Paez, responsável da Columbia Threadneedle para a Península Ibérica e América Latina.
No entanto, os riscos económicos não terão o maior impacto. Pelo contrário, serão substituídos em 2024 por riscos derivados da tensa situação geopolítica a nível mundial, com conflitos como os do Médio Oriente, a guerra na Ucrânia ou as tensões entre os Estados Unidos e a China, por exemplo.
Estes acontecimentos provocam preocupações, volatilidade a curto prazo e pressões inflacionistas a longo prazo. “É a este tipo de riscos que devemos estar mais atentos no próximo ano, pelo seu impacto nas empresas, pela grande incerteza que geram e pelo que esta insegurança provoca nos mercados”, conclui.
“Prevemos um abrandamento do crescimento económico mundial no primeiro semestre, que deverá ser seguido de uma ligeira recuperação durante a segunda metade”, afirma Mariano Arenillas, responsável da DWS para a Península Ibérica. Para os EUA e para a Europa, isto significa um crescimento anual de quase 1% e, para a China, inferior a 5%.
Preveem que as taxas de inflação em ambos os lados do Atlântico desçam abaixo de 3% no final de 2024. Isto significa que estão, pelo menos, próximos da zona de conforto dos bancos centrais, o que provavelmente lhes irá permitir reduzir as taxas de juro. Esperam três descidas das taxas de juro, tanto nos EUA como na zona euro, a partir da segunda metade do ano. Consequentemente, “acreditamos que já assistimos ao pico das yields das obrigações“, acrescenta.
Do ponto de vista dos investidores em ações, a combinação de um crescimento económico lento com taxas de juro geralmente altas é menos vantajosa. Mas, após anos de estagnação, na DWS esperam que as empresas voltem a registar, em média, um aumento dos lucros de um dígito, e vemos um potencial positivo dos preços nos mercados acionistas.
Para 2024, a Fidelity prevê uma elevada probabilidade de que a economia entre, já este ano, numa recessão cíclica. “A poupança acumulada pelas famílias e pelo setor empresarial durante a pandemia está praticamente esgotada, a despesa pública deverá diminuir e é provável que se verifique um aumento das necessidades de refinanciamento num momento de endurecimento generalizado da concessão de créditos”, explica Sebastián Velasco, diretor-geral da Fidelity para Espanha e Portugal.
Neste sentido, a inflação já começou a baixar, mas as taxas de juro vão continuar elevadas durante mais tempo até que surjam sinais claros de regresso ao objetivo. Depois, os bancos centrais vão mudar e reduzir as taxas à medida que o golpe no crescimento económico se for tornando evidente. Assim, os mercados laborais deverão normalizar-se e a estabilidade de preços deverá restaurar-se antes de se avançar para uma recuperação no final de 2024.
De um modo geral, a Invesco prevê a continuação do abrandamento do crescimento global no primeiro semestre de 2024, embora com nuances: os Estados Unidos seriam a economia mais resistente, a zona euro registaria um crescimento constante e o crescimento chinês estabilizaria após vários períodos de desaceleração.
Na opinião do diretor da Invesco para a Península Ibérica, América Latina, EUA Offshore e Israel, Íñigo Escudero, a inflação manterá a sua tendência descendente ao longo do ano, o que deverá conduzir a uma suavização da política monetária, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, que poderão iniciar o novo ciclo de cortes no final do primeiro semestre do ano devido à desinflação e ao abrandamento económico.
“Se as nossas expetativas se concretizarem, na segunda metade do ano assistiremos a uma recuperação económica – impulsionada pela inflação e pela política monetária – que aumentará o interesse dos investidores pelo risco, o que pode beneficiar ativos como as ações”, afirma.
“O mundo está a mudar e, com ele, os mercados financeiros”, afirma Ali Dibadj, CEO da Janus Henderson. O novo cenário será muito diferente e esta transição apresentará desafios e oportunidades para os investidores. Na sua opinião, em 2024, temos de estar conscientes das mudanças estruturais que irão alterar o panorama do investimento na próxima década e avaliar o posicionamento das carteiras tendo em conta três fatores de crescimento imparáveis:
- O reajuste geopolítico. A geopolítica afeta todas as classes de ativos e os investidores terão de pensar de forma holística para se posicionarem e navegarem pelos efeitos em cadeia das disputas transfronteiriças, da deslocalização e dos ajustes na cadeia de abastecimento.
- Os fatores demográficos. Estão a ocorrer mudanças a nível global e na forma como as pessoas vivem. Ao investir nestes segmentos de mercado, será essencial diferenciar entre tendências exageradas com viabilidade questionável e modelos de negócio e tecnologias inovadoras que podem gerar poder de fixação de preços, barreiras à entrada e vantagens competitivas com um verdadeiro potencial de rentabilidade a longo prazo.
- Por último, o regresso do custo do capital. O regresso das taxas mais elevadas alterou radicalmente o panorama das empresas. É provável que o custo do capital continue a ser mais elevado do que na história recente, mas as taxas estão provavelmente nos seus máximos e podem começar a descer. Esta situação reduzirá a atratividade de manter liquidez e é provável que se verifiquem realocações para o potencial de geração de rentabilidade dos ativos de risco.
Estes motores de crescimento darão origem a um melhor ambiente para a seleção de ações, uma análise diferenciada e uma abordagem seletiva da alocação de ativos, prevê Ali Dibadj. “Um ambiente que exige o investimento na classe de ativos certa e nos títulos certos, operando no contexto certo. A chave será construir carteiras para um mundo em transição”, afirma.
A principal tese da Jupiter AM continua a ser que as principais economias dos mercados desenvolvidos vão registar um abrandamento significativo e, muito provavelmente, uma recessão, e que algumas economias dos mercados emergentes também parecem frágeis.
“Quando olhamos para o estado atual das economias globais, acreditamos que um abrandamento nesta fase pode ser ainda mais provável”, afirma Ariel Bezalel, responsável de Fixed income e Estratégia. Há pelo menos três fatores-chave que sustentam esta tese, especialmente nos EUA:
- Os longos e variáveis desfasamentos da política monetária.
- A contração da atividade de concessão de empréstimos e a restritividade dos critérios de concessão de empréstimos.
- Menos apoio ao consumo
A história sempre demonstrou que a política monetária leva tempo a afetar as economias. “Não vemos nenhuma mudança estrutural que faça com que as coisas sejam diferentes desta vez”, acrescenta o profissional.
Tanto nos Estados Unidos como na zona euro, os bancos têm vindo a endurecer os critérios de concessão de empréstimos e começaram a reduzir a atividade de concessão de empréstimos. O excesso de poupança dos EUA esgotou para 80% das famílias, e o excesso de poupança diminuiu durante 23 meses seguidos.
Fora dos EUA, o ambiente parece ainda mais frágil. A maior dependência da indústria transformadora já levou a zona euro ao que, de facto, é uma recessão moderada. Tendências semelhantes também estão a surgir no Reino Unido, onde a reavaliação das hipotecas continua a ser um dos principais riscos. Por fim, continuam a acreditar que a China vai continuar a desiludir, uma vez que se debate com muitas questões estruturais nos próximos anos.
“Estes desenvolvimentos darão aos bancos centrais de todo o mundo razões (ou talvez a necessidade) para serem menos agressivos”, conclui.
Segundo Javier Dorado, diretor-geral da J.P. Morgan AM para Portugal e Espanha, 2023 começou com o ritmo mais rápido de subidas de taxas dos últimos dez anos; no final do primeiro trimestre, assistíamos a semanas de volatilidade devido ao stress bancário, mas 2023 está a terminar com a economia americana a demonstrar ser mais resistente do que muitos esperavam.
À medida que o impulso fiscal e a surpreendente atividade do consumidor começar a desvanecer, é provável que o crescimento seja moderado. Mas ainda não é claro se o ciclo, uma vez desacelerado, pode ser prolongado ou se a recessão mais esperada da história se vai finalmente materializar.
“O nosso cenário base prevê uma moderação contínua da inflação e do crescimento, mas também reconhece a resiliência subjacente da economia americana”, afirma o profissional. O arrefecimento da inflação, combinado com um crescimento mais lento, mas positivo, irá provavelmente manter as taxas inalteradas por algum tempo. “Os níveis de yields atuais apoiam uma modesta sobreponderação em duração. Com os riscos de uma iminente recessão a diminuir, encontramos valor no crédito e mantemos uma posição neutra em ações (preferimos os mercados desenvolvidos aos mercados emergentes)”, conclui.
“O cenário mais provável que vemos para os Estados Unidos é uma aterragem suave, em linha com as ambições da Reserva Federal desde o início do seu ciclo de ajuste monetário”, afirma Laurent Gorgemans, diretor-global de Gestão de Investimentos na Nordea AM. No entanto, um aumento inesperado dos dados relativos aos preços do consumidor ou uma inflação de base mais persistente, impulsionada pelos aumentos adicionais dos salários reais, pode alterar este cenário. “Os participantes do mercado já estão a descontar o primeiro corte de taxas da Fed em 2024, o que pode ser prematuro”, acrescenta.
A zona euro parece estar num contexto diferente. A Alemanha está a ter mais dificuldades do que o previsto, apresentado um caminho recessivo que parece mais estrutural do que técnico, apesar de se prever que o crescimento do PIB da UE se mantenha positivo. “Os efeitos do endurecimento monetário estão a tornar-se mais visíveis: a procura de empréstimos corporativos está a diminuir, ao mesmo tempo que persistem as debilidades na produção e nas vendas de retalho. Por esta razão, segundo o profissional, a Europa poderá ter uma aterragem mais brusca, dada a maior fragilidade da maioria das economias europeias”, afirma Laurent Gorgemans.
No que respeita à China, a história da reabertura não desencadeou um regresso a um crescimento elevado, dado o contínuo problema com o mercado imobiliário, os fracos indicadores da procura interna e as forças geopolíticas. “Isto leva-nos a acreditar que o crescimento da China poderá continuar a ser débil”, conclui.
As perspetivas da Robeco para 2024 preveem uma mudança significativa no panorama económico mundial. O cenário Goldilocks está a chegar ao fim. “A diminuição da despesa dos consumidores e a redução do investimento empresarial são provavelmente um reflexo do profundo abrandamento do ciclo económico do G7”, afirma Peter van der Welle, estratega de Investimentos Multiativos na Robeco.
A persistência das taxas elevadas pode provocar um aumento do desemprego de até 1-2% até 2025. Os balanços corporativos e das famílias continuam sólidos, o que, até agora, tem evitado uma recessão clássica. A China, por outro lado, enfrenta um risco de deflação total. A continuação da tendência descendente das vendas e dos preços da habitação na China poderá dificultar uma recuperação sustentada do consumo interno.
Segundo o profissional, em 2024, os mercados financeiros registarão um endurecimento das condições financeiras. “As yields das obrigações podem não ter atingido o máximo, o que afetará inicialmente o seu uso como cobertura. As curvas das taxas poderão inclinar-se mais devido às preocupações fiscais, embora seja provável que as correlações entre obrigações e ações se tornem negativas quando a inflação subjacente descer abaixo dos 3%”, acrescenta.
As ações enfrentam desafios como a diminuição da liquidez, as questões geopolíticas e as elevadas taxas de juro. As atuais previsões de crescimento dos lucros de dois dígitos, segundo o consenso, parecem mais otimistas, o que poderá provocar uma compressão dos múltiplos. “Embora o consenso sobre as previsões de lucros comportem riscos, a Europa e o Japão poderão sair-se melhor. No mercado de divisas, a Fed aproxima-se da fase de redução do ciclo. O par dólar-iene é interessante dado o potencial ascendente do iene”, conclui.
“O crescimento abrandará à medida que a subida das taxas se repercutir na atividade”, começa por afirmar Leonardo Fernández, diretor do canal intermediário da Schroders. No entanto, continua a ser improvável uma recessão total e esperam que a economia mundial estagne em grande medida em 2024. “A política monetária dos países desenvolvidos encontra-se provavelmente no seu ponto máximo de restrição, mas as condições económicas irão determinar as políticas de taxas“, acrescenta.
Por exemplo, os argumentos a favor de manter as taxas elevadas na Europa não são óbvios e o BCE pode aplicar um primeiro corte na primeira parte de 2024. A Fed, por sua vez, não deverá começar a reduzir as taxas até à segunda metade de 2024, devido ao risco de outra vaga inflacionista nos EUA.
A este contexto é preciso juntar as megatendências da descarbonização, da demografia e da desglobalização – as 3D -, que continuarão a ter “um impacto sísmico nas perspetivas económicas e na abordagem de investimento dos investidores em 2024”, conclui.
A UBS AM espera que a atividade económica se prepare para um suave arrefecimento. “As estimativas dos lucros por ação a 12 meses continuam a aumentar, embora esperemos que o ritmo de melhoria abrande à medida que a atividade económica se modera”, afirma Álvaro Cabeza, responsável de negócio da UBS AM para a região ibérica.
Por outro lado, a desaceleração do crescimento contribuirá para consolidar a opinião de que o ciclo de endurecimento da Reserva Federal está provavelmente terminado. Se esta perspetiva se confirmar, considera provável que se renove a confiança de que a economia terá uma aterragem suave, em vez de uma rápida mudança de perceção de sobreaquecimento para recessão.
A gestora também afirma que a recente retórica da Fed sugere que a fasquia para um maior endurecimento da política monetária é ainda mais alta. “O discurso também sugere uma maior tolerância para um crescimento sólido, desde que não fomente uma reaceleração da inflação”, acrescenta o profissional.
Publicado no FundsPeople no dia 15 de Dezembro 2023